segunda-feira, 15 de março de 2010

Fundo e Infinito



Claro que a gente tem uma idéia de como se fala fundo infinito em inglês, se você começa a navegar apenas nas palavras que associa com fundo e infinito. Que são finitas nesse caso, porém. Graças a Deus.

Pensei primeiro em termos absolutamente literais. E veio bottom, fundo e endless, sem fim. Dando uma passadinha por bottomless, que é o espírito da coisa, sem fundo. O que logo me lançou num verdadeiro bottomless pit, ou inferno, abismo.

Eu até mesmo dei uma andadinha por alí e acenei para Dante. Que não me deu a mínima. Mas bottomless pit também pode ser um buraco negro, que em inglês tem um nome literalmente exato. Black Hole.

E que pensando bem, pode ser nome de site pornográfico de black amateur americana explorando seu melhor dote ou resumindo, sexo anal.

Jemina, "The" Black Hole. Paro de pensar besteira e parto para a pesquisa séria. E me vem background, que é fundo em vários quesitos e pode ser a bagagem ou carga (cultural, educacional etc) e ao mesmo tempo, fundo de foto, paisagem, quadro, desenho ou parede (em certos e limitados casos).

E brota a palavra: wall.

Wall que é palavra dessa geração yuppie, que já se tornou nome de revista (Wallpaper), e o que é um wallpaper senão um fundo, o cenário da sala, o papel de parede que faz o fundo da sala de estar ou do teu desktop. Fácil. Meia batalha (entre as palavras) vencida.

A guerra, no entanto, está perto de ser vencida. Navegando, começo a achar algumas referências e acabo telefonando para uma locadora de equipamento fotográfico. Mas acabo falando com um assistente que manja mais do que o fotógrafo: vai até o estúdio, pois tem certeza que o fundo infinito da locadora é importado, acha que é inglês, "um minuto só, senhor".

Sessenta exatos segundos depois, "Westcott, senhor, com dois Ts no final. Eu tenho o site nos favoritos, é isso. sjwestcott.com, americano, senhor. É um dos melhores. Não há de que, senhor."

Da Westcott, que tem catálogo em PDF, começo a casar palavras que começam a fluir aos montes, no google, na minha mente: infinite, infinity, infinity wall, infinity curve, que são todos backgrounds.

Na Calumet, fabricantes do mais caros backgrounds e formas (shapes) de fundo infinitos, descubro finalmente as maiores possibilidades para fundo infinito: o fixo, ou seja, a parede fixa que desce de encontro ao chão e faz uma curva (que pode oscilar entre alguns ângulos padrão, para melhor iluminação), antes de encontrar o solo, tudo da mesma cor, que em geral é Branco Total ou Preto.

Nós dois que já entramos e saímos de tantos estúdios, sabemos bem o que é. O outro, é o rolo de papel ou tecido especial (com a tecnologia de hoje, são vários tipos de tramas) que você estica de um suporte chumbado na parede, até encontrar o solo.

Estica daqui, puxa dali... quando ele encontra o solo e é puxado na direção oposta à parede, com um jeitinho é possível formar um angulo curvo na intersecção de parede com solo, que tem a mesma função do fundo infinito fixo, mas é muito mais versátil que o fixo (que em geral é pintado de cores diferentes centenas de vezes...), pois o profissional só troca a bobina do suporte, de acordo com o tipo (paisagem lunar, parede de cavernas, terra, grama, água etc ad infinutum) de background ou fundo que você necessite.


Esse móvel, de bobinas, faz o que eles chamam de infinity curve, efeito do papel criando a curva arredondada que provoca a sensação de um fundo infinito, sem emendas, rasuras, intersecções ou ângulos retos definidos por trás do objeto ou pessoa que está sendo filmada, ou fotografada, em foco. Pronto.

Filtro sem usar nenhum filtro rebatedor para os pensamentos que fluem e se traduzem em sensações, retesamento, languidez e umidade cremosa no meu corpo contorcionista.


E então saio do link e volto a nós dois, o tema inicial dessa canção de palavras. Fecho os olhos e apalpo a superfície arredondada e sinuosa da sua cintura onde ela encontra sua perna sobre a minha coxa e se beijam, onde nossas curvas infinitas se fundem e mãos se entrelaçam correndo sobre teu seio, meu sexo, nossas nucas e línguas que se exploram sem noção terrena de extensão. Minha língua tem uma fome desmedida de saborear a curva infinita que forma o arco baleno de suas pernas, o arco de quentes lábios úmidos que sugam e me remetem às paredes infinitas do nosso prazer em teu santuário com o fundo falso infinito. E já que a curva é infinita, sigo em frente impelido pelo grande prazer desconhecido que toma conta de minhas partes altas, médias e todas as outras que estão entre, ao lado e principalmente no meio dessa área situada entre as pequenas mortes sucessivas e o encaixe exato de nossas raízes de pele tão sensível, suave, elástica... que se fundem, se fundem, se fundem. E viram o avesso devassado que sai do solo em direção a copa da frondosa árvore que se projeta contra o céu.

É nesse momento que chovemos de prazer em sucessivos e pequenos relâmpagos que iluminam nosso analema temporário, enquanto produzimos música suave no momento em que nossas bocas conseguem desgrudar-se e se abandonam ao delírio dessa melodia densa e líquida que nos escorre da alma.

Assim tem sido, e mais do que assim, sempre será... Beijos sussurrados em insistentes múltiplos gozos de amor palpável espalhados pela abóboda de nossa imaginação mais libertina e naturalmente funda e infinita.


Março, 2008