sábado, 24 de abril de 2010

Padrões repetitivos (Tsuãnima) revisited

(Tsuãnima by me, CaiON, que shared fotos aéreas do fenômeno on the net through Google)

FeceBook, Faces & Future Books, Faces in the Book, not always by the book, but always for the records in the books, love & peace...


Caio Nehring: Padrões repetitivos

My NotesNotes about MeCaio's Profile (?)

Padrões repetitivos
(Your heart?)

Yesterday at 1:48pm Edit Note Delete



Suportar o insuportável.


Vou ter que suportar o insuportável.

Esse foi o último pensamento que Teodoro teve antes de desmaiar de cansaço naquela noite.

Suportar o insuportável.

Exausto pelo demorado exercício mental a que Gertrude o submetera, quase caiu no sono ali mesmo, na frente do monitor.

Escreveu durante horas e botou pra fora todos os fantasmas e demônios que dominavam sua alma.

Não estava mais tomado pela depressão, nem pela dor da rejeição, mas cansado, aquele cansaço que bate em todo mundo que passa dias sob pressão e ansiedade antes de um casamento, do preparo de uma festa, de uma apresentação ou do deadline de um projeto qualquer.

Suportar o insuportável, ele pensara, na verdade é isso: enfrentar essa rejeição muda de Teodora, olhando para o lado positivo dessa ruptura.

Mas o que há de positivo em ser a porra da carta fora do baralho dela, o que pode existir de bom em ter todo o seu amor ignorado pelo objeto dessa adoração?

Ele não tinha idéia do quê. E desmaiou, cansado. E aliviado, de alguma maneira.É claro que tudo que escrevera sobre a partida de Teodora ainda permaneceu um bom tempo em sua mente, naqueles momentos de vigília antes do sono e é óbvio que

Teodoro acabou sonhando com ela e acordando sobressaltado no silêncio da madrugada.

Tão sobressaltado que demorou a acreditar que já estava acordado, enquanto andava pelo escuro do apartamento procurando seus cigarros. A sensação de que Teodora estava grudada em seu corpo não o largava. Estava úmido. Quente. Quando acendeu o cigarro e viu que Teodora não estava em lugar algum a sua volta, despertou e soube que a presença dela resumia-se agora a uma leve sensação de que estivera com a cabeça encostada em seu peito, no sonho, vai saber. Será?


E havia a cachorra lambendo seu pé, em plena madrugada. Pára, Cacauette, pára!

Deu o último trago no cigarro, olhou para a entrada do Itália pelo vitrô da saleta, voltou para o quarto da lavanderia, silencioso como ele só (fazia anos atrás) e caiu no sono de novo.


E não sonhou mais com Teodora. Sonhava apenas com uma voz que emanava do painel de pequenas fotos na cabeceira da cama. Em que foto estaria a voz que lhe dizia para suportar o insuportável? Não importa, dizia a voz.


Apenas tente fazer o que estou dizendo, babacão!”


Acordou bem na manhã seguinte. Quarta feira. Tinha muito trabalho pela frente, o magazine da gringa NYC mandara três novas traduções para acabar até segunda, uma sobre o apocalipse, na visão de 12 cientistas top de linha reunidos numa cabana no topo de uma montanha em Telluride.


O que ia dar muito trabalho à sua cabecinha para sequer pensar em suportar o insuportável.

E nos dias que se sucederam ao tsunami emocional que passara, quando Gertrude o tivera sobre controle e sua mente e seu coração, Teodoro começou a inventar mil manhas para não se entregar ao sofrimento e suportar o que viesse pela frente, pensamentos e encanações que invadissem seu coração e mente, medos, dores e correlatos aquém chacoalhando seu íntimo nas marcadas sentimentais que sua alma ainda lhe aprontaria.

Always manage your tools with ease, dizia meu bródi Scott, de New Hampshire, ao que Walther Dunfey, outro buddy do mesmo hostel, retrucava, "And keep' em o'ways clean & oiled, damn u!"

The tools are everything, Bia teclou no skype na tela de Teodoro...


E descobriu que quando mantinha os músculos do rosto livres para sorrir, não conseguia ter um pensamento sequer negativo...


"Teodora te abandonou e fim. É essa mulher que você amava e que nem se importou em discutir a relação dos dois.

Essa mulher que abriu uma ferida na sua alma. Essa ferida vai te dar um bom trabalho. Você precisa curar essa ferida, Teodoro. Como você vai fazer isso? Suportando o insuportável, jacaré?"


Descobriu que quanto mais a visse nesse período day after, seria melhor para lidar com o sentimento de perda. Vê-la e convencer-se que não era mais sua. Ou que poderia encontrá-la por acaso com um novo namorado. Falar com Teodora e sentir as mudanças de voz, e tentar adivinhar o que estava acontecendo na vida dela agora que ele não estava incluído. Teodoro descobriu que tudo isso conseguia afastá-la de sua mente. E claro que do coração.Teodoro saiu e encontrou-a algumas vezes. Nesses momentos a observava atentamente. Tentava entender como se apaixonara pela mulher.


Procurava descobrir se ainda havia algum tesão rolando. Olhava para o perfil dela no escurinho do cinema e se perguntava: amo esse perfil, vê-lo me faz falta ou não? Será que ela está feliz de me ver bem?

Olhava cuidadosamente para os seios fartos sob o pano das malhas e blusas e procurava descobrir se aqueles bicos estavam tesos ou relaxados.

Olhava despercebidamente para as curvas dos seios, quando se revelavam sob uma blusa mais aberta e tentava saber se isso lhe despertava a mínima sensação de excitação que ia cada vez ficando mais distante de sua memória da pele.


E foi num desses momentos de observação zen que Teodoro conseguiu pela primeira vez afastar-se totalmente de Teodora e observa-la de um ponto de vista totalmente inédito para ele, e sentí-la realmente sua amiga, companheira de uma jornada que acabou aqui, mas recomeçou ali, next level.
E foi no futuro desse processo todo que ele descobriu que agora não era apenas trocar de par. Mas trocar a vida e tocá-la, sempre em frente, UP, como você diz, Mon ange.

Ele olhava para o movimento dos lábios dela quando se perguntou, “porque diz certas coisas tão preconceituosas como essa que seus lábios estão articulando?”

Examinava suas expressões de rosto e procurava adivinhar o que realmente significavam.

Olhava para os olhos negros dela e procurava descobrir se havia beleza por trás deles, lá no fundão mais recôndito daqueles olhos que foram a primeira coisa que Teodoro conhecera antes mesmo de havê-la encontrado.

Ela mandara uma foto tirada em um coquetel da Editora G@, quando lançara o livro da mini-série, na livraria do Rio de Janeiro.


Na foto, só se viam os olhos de Teodora, um copo de cristal com champanhe encobrindo seu nariz e boca e os longos dedos e cabelos daquela mulher que deixaria Teodoro completamente apaixonado e em estado de graça durantes meses a fio.

Eram através desses olhos, e dos textos que ela escrevia para ele na internet, que ele se apaixonara.

Os olhos de um discurso amoroso que se tornaria, anos depois, um decurso amoroso. E o curso da amizade.


Até a Lua cheia do dia 7/10, aproveite para comparar tendências e teorias, tentando adaptá-las à vida real. Algumas irão embora com a Lua minguante, no dia 13/10, e é melhor assim, porque se provarão erradas e desequilibradas.



Mas não era fácil adaptar isso que estava em sua mente à vida real. Ele tentou, mas não conseguia. A vida real era o abandono ao seu novo destino e ele não tinha a menor idéia do que seria. Teodoro andava o tempo todo, no metrô, no ônibus, a pé, olhando nos olhos das pessoas... e esperando um sinal. Que poderia vir de uma pessoa, by mail ou via vida diária mesmo, que era mais provável.


(Tá Certo. Às vezes... olhava para trás, quando as mulatas passavam. Teodoro parecia português. Adorava olhar derriére bem feito de mulata. Principalmente as de olhos verdes, azuis e lábios fartos.
Mesmo as que calçavam 41.
A visão delas era epifânica, e às vezes, como aquele dia na frente da entrada da estação Clínicas, uma delas olhou-o por sobre os ombros delicados, piscou um olho, estalou a língua... Ái, ui...
Teodoro teve que sentar no ponto de ônibus, inspirar, expirar, de novo:
A primeira mulata sapeca da semana: ela estalou a língua!
Aliás, nessa hora Teodoro nem lembrava sequer dos olhos negros por trás do copo de champagne. A mulher não existe mais.
Já tô indo, Esmeralda, Leonor ou Dagmar... E depois café, cigarro e muitos beijos pra tu me dares...)


E se perguntava... iria alguma delas salva-lo daquela solidão?

Será essa, a chinesa dark?

Aquela médica indo para o carro? A suave doce operadora da bolsa, com terninho risca de giz e lenço violeta no pescoço, delicado? A agridoce caixa atrasada da Droga Raia, mordendo a gengiva, roendo as unhas?

Ou será a Lolita de cabelo violeta e piercing nos nipples? Será a Benedita ou Benta, a tímida, ao lado da porta de saída com o pacote de Budweiser na sacola das Americanas?

A prenda domésticas que saiu de casa e só tirou o sutiã no metrô, longe do maridinho... sentindo-se livre e solta..?
A antiga paixão de escola, dos vinte e poucos anos, que o acharia, e ele sabia, tinha certeza, previra, mais cedo ou mais tarde, comme il faut...


O que Teodoro sabia muito bem: só um novo amor podia salva-lo
e resgatá-lo.
Não só, não apenas. Mas ia ajudar pra burro no próximo natal - ali, virando a direita - quando a sensibilidade do herói iria as alturas e atravessaria todas as fases da fuga e do nascimento do menino Deus todo santo greyhound day, e ia virar um rei mago em meditação profunda, três vezes por semana. No Natal, sempre foi fácil ferir Teodoro. Ele sentia-se como o deus-criança nú na manjedoura di halll principal.
No More, No More Mr. Nice Guy, Alice dizia.

Mas precisava (embora não quisesse) deixar a coisa acontecer na-tu-ral-mente. Acontecera uma, e duas, e três, e quarenta e duas vezes, por que não aconteceria de novo, inesperadamente, mas infalível (para salvar a pátria dele, sem dúvida, tão necessitado de uma boa injeção de sexo selagem, suave, carinho, afeição, entrega e sonoras gargalhadas a dois no escuro do edredon branco)?


Era assim que funcionava: tudo é passageiro (menos o motorista).Tudo passa (inclusive o poste e a uva), e essa pessoa que Teodoro é hoje, amanhã já não existe. Já era.

Sil diria, em meio a boa risada, 'tudo tem começo, meio e fim'.

Contra o que não há argumento confiável, nem lógica passível (plausível, colega?). Mas já paga ao contrariar, just in case, comenta Moraes


E era isso que ele queria: deixar pra traz essa pessoa machucada, batida, surrada, com esse coração meio desbotado, botar aquele Teodoro usado até o bagaço pra escanteio e ser o novo Teodoro que adora mais a si mesmo e menos a próxima Teodora.
E ele sabe que a tarefa é árdua.


Quem sabe até mudar de nome.
Theodore? Lindsay? Jacinto?


Não isso não. Teodora já quase não existia mais, era só uma idéia do que fora uma paixão. Agora, Teodoro sempre se chamaria Teodoro.

Podia ser até uma nova pessoa, menos servil, menos padrão canceriano de apego, de lembrança, de desapego, menos bonzinho.

Quem sabe, até mais filho da puta (Sorry, mãe), falso, aproveitador.

Mas seria sempre Teodoro. Apaixonado.Mesmo sonado.

Sempre cheio de amor pra dar porque era amor que movimentava o seu ser e ele adorava adorar as pessoas e tê-las bem em seu coração.

Aliás, Teodoro amava todas as mulheres do mundo, básico.

As feias, as bonitas, as mignons, as carnudas, as coxas, as mancas, as zaroias, as peitudas, as tábuas, as bravas, as doces, as malacostumadas, as autoritárias, as mãezonas devassas... todas tinham um encanto especial.


Até a mulher de seu Manoel, na cozinha com aquele buço enorme... Experimentando a buchada na colher de pau...

Depois do expediente, Alzira era carinhosa e até sorria pro Manoel, que toda noite após as 23hs, ia pro céu.


E voltava pra abrir o California, de manhãzinha, com uma dorzinha gostosa nas costas, nos joelhos, na articulação... tão gostosa... ele, o cozinheiro e o sócio-portuga da vez...
Por falar nisso, aonde andaria o Sr. Adriano? Sumiu do Califórnia, você viu?

Teodoro, você não tem jeito.

És aquele que adorava a Teodora e agora sabes afinal que Teodora na verdade, seria sempre a sua próxima Paixão. Who's next?


Fosse ela quem fosse, ele adoraria adorá-la e deixaria escapar um Te Adoro, Teodora. Adoro te Adorar. Teo.

E do jeito que a coisa estava indo, a sorte parecia estar sorrindo para ele.

O coração já se preparava para dar outro salto, e quando pensava na antiga Teodora, começava a sentir pena dela, misturada com saudade.

Quando ele almoçava com a brejeira professora de yoga, ele olhava para o olho furta-cor dela, sempre olhando diretamente pro rosto moreno dele, e pensava: os olhos de Teodora não encaram assim, eles piscam em todas as direções, são nervosos.
E não olham direto pros seus olhos.
Quando passava e conversava com Céu, dona da banca de bicho da Gabus Mendes (grávida pela primeira vez aos 37), ele pensava:


- (Ela não diz nada que não seja positivo.Ela não fala mal de ninguém. Nem do governo, nem do vizinho, nem do calor. E se falava, colocava um certo balanço no comentário...O Seu Manoel é mal humorado, mas tem um coração de ouro! A Ivetta é desbocada, mas faz um camarão na abóbora que você não faz idéia! Era sempre assim.Você é um filho da puta, mas eu gosto de você assim mesmo, Teodoro! Céu ia além do limite. E falava olhando pra sua boca, nunca entendi. As vezes levantava os olhos até os seus, mas logo voltava a baixá-los e a encarar os lábios de Teodoro, como se fosse sugá-los. Céu, as vezes, ia além do limite, mas esse é um outro causo.)


Mas Teodora... ela só abria a boca pra reclamar. Ta entendendo, Teodoro? Só pra reclamar? Nada de eu te adoro, Teodoro... Quero mais você... Posso beber duas caixas de você... Me ama, Teodoro.

Me abraça, amorzão! Nadica de piripitiba.

Era só " 'tô devendo o condomínio, ninguém me liga da editôra, entrei no especial, quando esse menino chegar aqui eu esfrego o nariz dele nesse chão... O cara não me pagou... Acabou o quindim? Compra um Tylenol pra mim, agora? Você leva ele na escola?"

Dois mil e sete já está aí, Teodoro... Dois mil e vinte em 14 anos.

E ela ficou na curva da estrada.

Você não perdeu nada.

Ela perdeu você. Babacão.

Que perdeu uma paixão,

e ganhou uma aliada,
para a vida, vechio novo.




Novembro/2007, Sorocaba.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

PSIU: Com uma ficha telefônica você diz 98 vezes Eu te Amo por ligação...






- Essa foto de cima é de uma propaganda da Telesp ainda, que eu usei pra fazer um cartão de Natal pra Ellus, com um texto que até hoje eu não sei como o Nelson aprovou, era uma coisa de amor universal, de sermão da montanha psicodélico... que você lia qdo abria essa aba do cartão com essa foto de propaganda de jornal, estourada na ampliação da foto da foto, com a aplicação de magenta nos lábios da moçoila feita em gráfica, direto no fotolito, numa época que não existia computador nem photoshop nem nada dessa porra toda que tá aí (e que ajuda pra caramba, nem se fala) , era 83 , a Didi nem tinha nascido... e meus fornecedores gráficos faziam milagres e muita experiência antes de pegar as buchas que eu inventava, tudo sempre na maior boa vontade... e tinha um texto mais ou menos assim:


"Com uma ficha telefonica você consegue dizer EU TE AMO 98 vezes."


Era promo de dia dos namorados no JT, aquela ficha antiga de metal com ranhuras q durava 3 minutos contadinhos e você comprava cartelas de 5 e parecia cartela de bala. No Natal acho que posto esse cartão todo no fuçabook, frente e texto interno, redação minha, o tal texto zen% total, pice en lóvi geral.

(...)

- Não fiz até hoje o teste pra ver se realmente a gente consegue dizer eu te amo 98 vezes em 3 minutos. Será que dá menos ou mais? Vamo fazer, amor?


-Vamô! Digo 100 vezes Eu te amo em 3 minutos, será que dá...?


- Dá sim, linda. E eu vou adorar. Liga pra mim, que eu cronometro e começa logo a dizer repetindo na calma, mas sem ficar mandrake meleca...

"Eu te amo, eu te amo, eu te amo"... quando chegar aos 98 a gente para e mede, falô, queridona? Pode ligar. Vou desligar. beijo.


- Vou ligar já já, querido, beijim...


(trimmmmmmm, trimmmmmm, trimmmmmmmm)


- Diga lá, minha...


- "As contas vencidas há mais de 30 dias terão a linha correspondente desligada ao fim desse prazo. Evite a taxa de religação e pague sua conta em dia. Muito obrigado, a Telefonica agradece. Desconsidere essa mensagem se a conta já foi paga, por favor".


-... linda!






Abril/2010
5 am.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carta à Berta Zimmerman



Budapeste, 7 de Maio de 2012

Amorzão,


Da mesma forma que você sentiu necessidade de me ligar logo depois que saí da sua casa engatinhando, mas mantendo a pose, com minha alma machucada, eu tenho essa urgência de te escrever sempre que algo acontece e eu chego ao meu chateau em Margaret Island.


Você me conhece muito bem e entende isso, minha querida.
Vejo o Danúbio, penso em você e choro.


Graças a isso e a sempre poder conversar com você, eu me mantenho emocionalmente vivo e saudável a minha alma.

Não espero que você entenda nada do que vou te dizer, porque mesmo eu ainda não entendo. Você já viu uma história de amor mais tresloucada do que a nossa nessas quase quatro décadas?
Nem em Zurique, nem Budapeste, nem na Córsega, nem em Arraial D’Ajuda. Duvido e faço pouco.

Mas acho que tem uma idéia aproximada do que sofri e do que precisei enfrentar do final de novembro para cá e de como essa perda quase me enlouqueceu, no início.
Não, não vou entrar em detalhes. Na verdade, enlouqueci e fiquei feliz, tudo ao mesmo tempo e estou até agora procurando o caminho da tua casa com o DVD do Winwood na mão esquerda e um livro de receitas italianas para estrangeiros na outra.

Não vou falar das três vezes em que morri. Nem sobre o que passei, nem sobre o que você passou e no pânico que senti, o que realmente aconteceu e muito menos sobre tudo que se passa comigo com relação ao seu novo amor, a cada novo fato que me é revelado ao acaso, feito alçapão.


Ainda me é muito difícil falar nele com você. Vê-lo no porta retratos em que já estivemos nós dois abraçados, nem se fala.
E eu sinto que com você acontece a mesma coisa, portanto, nunca insisto.
Deixa o bicho na natureza dele.

Mas repito: ele não merece essa sua paixão adolescente descabida.
Só eu mereço, viu? O quê?

Entendi, menos, Manfred, menos.

O que tenho mais urgência de te dizer, que é algo que eu não entendo – ainda é outra coisa.

Acho simplesmente inacreditável e insólito que eu tenha enfrentado, sido triturado, passado e superado tudo o que tive de enfrentar e superar -

e eu digo tudo para não ter que dizer cada um dos incomuns estados emocionais a que essa perda me submeteu desde que tudo isso começou a acontecer e a me engolir feito buraco negro –

e em nenhum momento, nenhum, none - eu tenha deixado de te amar.


Isso eu não consigo compreender. Again: é insólito, é surreal.

É o Dali & Gala syndrome revival que nos assola?
O que é mais complicado ainda, é que não é isso apenas.
Nem tão avassalador.

O mais complicado e cada vez mais difícil de absorver é que a cada novo fato, a cada nova surpresa ou revelação, sei lá como chamar esses seus assaltos à minha alma... Parece que te amo ainda mais!

Calma, minha linda. Eu disse “parece”.
Se analisarmos isso em toda a sua profundidade e avaliar com mais vagar, com mais calma, eu vou chegar à conclusão que nada, nada, nada, do que aconteceu entre todos nós, conseguiu abalar o amor que eu sinto e tenho por você, Berta Zimmerman.


E eu te amo além de toda a posse e o que é mais incrível ainda: te amo mesmo sem você se importar com isso e ver que isso é muito, mas muito mais do que um simples ter de enfrentar esse “bicho” (sic) que te pegou desprevenida e te dominou completamente.
Or so you say.

Será que eu sou detrito cósmico? Será que eu sou fraco? O que será que eu sou e o que será que acontece comigo, minha linda fraulëin? Ou será que eu sou forte demais e nada egoísta e acredito no amor livre mais profundamente do que o hippie que ainda existe em mim (e que toma dois banhos por dia, como sabes)?

O que eu sinto é que esse amor insano na aparência que eu sinto por você é incondicional, e na verdade, lúcido. E o fato de você ter dado um novo sentido a sua vida está me libertando de você e deixando o novo amor entrar na minha vida, diretamente no meu corpo, na minha alma, no meu coração.

You Can Come, i'm ready.

Te amo demais, mas acho que começo a me encantar com essa nova possibilidade de amar e me apaixonar pelo anjo da revelação que vêm se aproximando de mim, nos meus dias, nas minhas manhãs, entre as árvores e me estendendo as mãos, me curando de você.

Não sei. Talvez só o tempo me diga o que sou. Talvez só uma pessoa que saiba de toda a nossa história possa me dizer exatamente o que eu sou, e mesmo assim, dada certo distanciamento emocional e imparcialidade de visão. Se não mora aqui em Budapeste, não pode entender o que aconteceu entre nós dois.

Nada conseguiu abalar o amor que sinto por você e ainda padeço da mesma vontade de estar ao seu lado, a mesma necessidade de fazermos amor na sala, a mesma necessidade dos seus beijos e das palavras de carinho e de prazer que você me disse e diria, não existissem fatalidades & imprevistos e o oportunismo da impiedosa ira de Saturno, que toma tudo no auge da sua revolução anual... Na verdade... foi ele quem me tirou de você e deixou seu caminho aberto. Impiedoso Saturno. Filho da mãe.

Quantas vezes, nesses meses todos, tive uma vontade desesperada de te ligar e implorar para a senhora me chamar... pra ficar com você, pra dormir ao teu lado (as noites que você estava em crise, não valem), para simplesmente ficar sentado ao teu lado, olhando pra você, para os seus olhos de mel. Para aquelas marcas.
Você não tem a mínima idéia. E eu não vejo nenhuma vergonha em te dizer isso.

Fodam-se os outros, foda-se o que eles possam pensar. E “fova-se docê” se não perceber a beleza do que estou te dizendo.
No Brasil achariam que eu sou um basbaca, É assim que se diz, c’est pás? Basbaca.
Ao menos, um basbaca nobre. U can drink that to my health.

É justamente por nada do acontecido ter abalado, destruído ou sugado o meu amor que eu ainda sofro dentro de um certo esquema controlado por diversos fatores.
Complicado e malabarista que só vendo. Não vem ao caso , ou ex-caso de amor & paixão & queda livre.
Mas eu vou me curar de você, Ms Zimmerman, já estou quase ali na curva da estrada.

Claro, tenho recaídas inexplicáveis.
Você me faz uma falta insuportável.
A sua voz, o seu cheiro, a sua pele.
A ausência de tudo isso junto.


E ao mesmo tempo em que eu sofro por essa ausência, por não poder ter essa deliciosa sensação que a sua voz, sua pele, seu corpo e seu cheiro próximos causam em mim, e saciar a minha carência de você dos pés à cabeça, a possibilidade de ainda sentir a força disso dentro de mim me faz feliz e me causa outra sensação que só eu sei a delícia que é.


É como pequenos orgasmos involuntários disfarçados de soluço, que um pequeno movimento da mão cobrindo os lábios disfarça muito bem, esteja eu no Pizza Hut ou sentado a beira do Danúbio, que sem você, é realmente Blue. Mesmo escutando o que Zawinul escreveu para ele. que me conforta e muito. Pobre Joe. Se foi.

Eu fiquei a ver teu navio, Berta. Um avião, na verdade.

É uma sensação alucinante que eu gosto de sentir e que de certa forma, me satisfaz, sacia a minha sede de você. Aplaca meu vício.
É um tesão permanente.

E o ingrediente mais poderoso desse meu vício.

The Perfect Drug (by NIN or me).

Vez ou outra visto uma das malhas de cashemira pela 1ª vez, aquelas que me destes naquela última manhã do último dia do Carnaval de Veneza, e que ainda mantém seu perfume.
Saio andando alucinado em surto de paixão, suando pelas praças e alamedas, e ofegante, misturo uma vez mais nossos cheiros.


Duas horas depois me vejo exausto e estendido sobre a grama do parque Népliget, coberto de suor & felicidade. “Outra vez, Dr. Manfred, outra vez?” sempre me diz Jamal, o vigilante turco do parque quando me encontra estendido ao lado da bica de água. “O Sr. não ter jeito, dotorr, naum tem. Posso ajudá?”.

È aí que eu volto quase ao início de tudo, 'ao motivo inicial dessa canção' e te digo de novo que não espero que você entenda nada do que te escrevi, porque eu também ainda não entendo nem consigo aceitar.

Como também não entendo como é possível você voltar a Firenze com meu guia de cafés e não me escrever um cartão postal que fosse... Degustando um belo expresso numa daquelas mesas na calçada de 1000 anos... Pensei tanto nisso, sua malvada.
Como você conseguiu fazer isso, bella Berta?

Onde você aprendeu a ser tão má assim.

Como Mae West, when you're bad bad, you're at your best, honey?

Is it?

Algumas coisas que eu ia escrever, acabei de te dizer na web cam, não pude ver os seus olhos direito, evasivos. Suportei muito bem teu silêncio e essa respiração alterada e curiosa, mas não vou repetir porque senão você vai ficar com a bola cheia demais de si. E é capaz de explodir. E isso eu não quero. Quero você inteira, sempre.
Todas aquelas curvas ao lado dos precipícios certos e trilhas conhecidas

e a nossa cachoeira.

Tudo o que aconteceu de lindo entre nós me transformou nessa pessoa idiota (mas feliz) que te escreve coisas absurdas e das quais tem orgulho imenso de poder sentir e dizer, embora saiba o quanto é difícil pra você admitir isso e demonstrar algum afeto, some emotion, enquanto escuta eu dizer a minha fala de malandro old school bem intencionado... que canta maliciosamente ao pé da web cam... Eu sei que vou te amar... como se fosse o velho poetinha em pessoa, chegando ao 3º uísque e já abraçando a moça...

Eu bem que tenho tentado sair com outras mulheres e mesmo assim, quando saio, não sinto um décimo daquilo que você me faz sentir com simples beijos da sua maravilhosa boca. E isso é uma tristeza quase que infinita pra mim. Só elas pra me fazerem não pensar em você desse modo obsessivo. Mas não funcionou.
Já me aconteceu duas vezes. Peninha. Mas isso já começa a mudar.

Vou ter de me apaixonar de novo. Eu que prometi a mim mesmo que não ia me apaixonar quando te reencontrei no Coliseu.

Bem que tento me afastar de você, mas não consigo. E por isso têm situações que eu tenho que enfrentar. E encarar. E suportar (ai!ui!)
Como aquela marca que eu descobri. Pode até doer na hora, como sempre dói, mas...

Mas estou mais forte e até agüento o tranco. E cada vez que isso acontece, eu cresço. Eu melhoro. Me transformo num ser humano melhor, creia-me. Tenho mais certeza ainda daquilo que sinto por você e pelo mundo. É um amor que independe de qualquer condição.

E isso – mesmo que eu chore um pouco, que sempre é um choro renovador e me faz bem ao lavar a alma e esse coração escolado – me torna um homem feliz.
Um homem que consegue amar alguém, como eu te amo, independente de tudo e de todos. Um homem que consegue amar e que jamais conseguiu colocou em seu coração um sentimento de ódio ou de rancor sobre você. Em você eu só coloquei amor. Lots.

Alguém assim pode amar todas as mulheres do mundo, mas provavelmente sou a desgraça do gênero masculino.
Isso me torna um homem tão feliz que consigo até sentir que já posso me apaixonar pelo anjo que surgiu, sem qualquer peso na consciência...

... Deixar meu coração livre a aberto para que essa pessoa entre e seja o que mais preciso nesse momento: carinhosa e sensual, mulher, centrada em mim, nesse momento. Manfred precisa de carinho, de atenção, de cafuné.
E muitos beijos. Ah, sim. Tons of kisses, fraulëin.


Percebo que nosso amor é eterno, mas nesse momento, parece que cada um de nós alimenta uma nova paixão e já não posso mais deixar a felicidade passar e perder o bonde dessa nova história.
Vou embarcar. Farewell, my Lovely. (Te vejo na semana...)

Fique bem e sempre se lembre desses absurdos emocionais todos que me acontecem, onde quer que você esteja.
Tenho absoluta certeza de que qualquer mulher se orgulharia disso, de um eu assim como eu, amando-as no matter what....
Desse sentimento tão puro que alimento por você, e que é invulnerável, suporta até kryptonita, verde, vermelha ou translúcida.
Levando-se em conta, claro, que você não é qualquer mulher.

Direto do Corpo, da Alma e do Coração, pra você, minha linda fraulëin.

Minhas recomendações a senhora sua mãe, quando encontrá-la em Salzburg, nas bodas de ouro de Chérie & Lindsay.



Manfred N.

Os. Sinto uma falta lascada do seu café de Bialetti na madrugada. Mulher má...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Realização da Alegria Fora do Buraco


"Enquanto você não puder rir, naturalmente, de você e da pessoa ou situação que te colocou em estado depressivo ou 'no buraco', você ainda está apenas com meia cabeça para fora do buraco.
E ainda não entendeu nada do que aconteceu."

"Curiosamente, estudos científicos contemporâneos revelam que a depressão causada pela perda afetiva é a pior de todas, já que desestabiliza todos os outros departamentos da pessoa/indivíduo e do ego (imenso? mínimo? inexistente?) e causa falta de harmonia geral, abaixa autoestima, torna-a vulnerável e provoca o colapso generalizado."

"Porém, as depressões, a dor, ou o 'luto', segundo jargão terapêutico, não duram mais que 180 dias e o próprio corpo se encarrega de expulsar dor, sofrimento, depressão... Matar o monstro e remover a carcaça e exterminá-la, pulverizá-la em definitivo. Aproveitar essa defesa do corpo e sair do buraco que se cavou é o movimento ideal. Na pior das hipóteses, depois de seis meses você já consegue rir de modo natural da situação geral, ver o lado positivo dela e se for uma pessoa querida, até compreendê-la e continuar amando-a.E sair do buraco, tapá-lo, quem sabe... até plantar uma árvore, um jardim."

"Em casos especiais, de 'espíritos mais evoluídos', só para usar uma expressão espiritual ou cultural... Passam a se amar até mesmo mais, após todo o processo de sofrimento, vivência e purgação e compreensão física e mental. E bingo! Ressurgem mais evoluídas ainda. Escute o que eu digo, jovem. Outros, matam e removem o cadáver emocional ou exterminam a situação/pessoa 'pivô' dentro de si, como que deletando-o de seu programa ou removendo o chip que o mantém ligado e integrado à 'máquina suave' e renascem para a vida nova, em muitos casos.

Mas é óbvio e de nosso conhecimento que cada caso é sempre um caso. Quanto a isso não há divergências."


Dra. Profª Antonieta da Silveira Nehring (1907-2006)

Matemática Antroposófica, Terapeuta Afetiva-Muscular e Regressão (Alexander/Fisher-Hoffman)


Carta para Cura: The Nine of Swords

"This card suggests that my power today lies in realization. I am not my mistakes. I can't do this alone or pretend any more. The illusion of comfort in denial or sacrifice is no longer mine. There is no shame in my suffering -- no healing in silent self-torment. It is here at the surreal crossroads of the "soul search" where dawning truth meets the anguish of overwhelming resistance in mind over matter that I can finally wake up, change my mind, let go of what no longer works or own my losses or choices. I am empowered by intense acknowledgment or epiphany and my virtue is gratitude or relief in recognition."

Yuko Ishimori (15-04-10, Gloucester, London).