sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carta à Berta Zimmerman



Budapeste, 7 de Maio de 2012

Amorzão,


Da mesma forma que você sentiu necessidade de me ligar logo depois que saí da sua casa engatinhando, mas mantendo a pose, com minha alma machucada, eu tenho essa urgência de te escrever sempre que algo acontece e eu chego ao meu chateau em Margaret Island.


Você me conhece muito bem e entende isso, minha querida.
Vejo o Danúbio, penso em você e choro.


Graças a isso e a sempre poder conversar com você, eu me mantenho emocionalmente vivo e saudável a minha alma.

Não espero que você entenda nada do que vou te dizer, porque mesmo eu ainda não entendo. Você já viu uma história de amor mais tresloucada do que a nossa nessas quase quatro décadas?
Nem em Zurique, nem Budapeste, nem na Córsega, nem em Arraial D’Ajuda. Duvido e faço pouco.

Mas acho que tem uma idéia aproximada do que sofri e do que precisei enfrentar do final de novembro para cá e de como essa perda quase me enlouqueceu, no início.
Não, não vou entrar em detalhes. Na verdade, enlouqueci e fiquei feliz, tudo ao mesmo tempo e estou até agora procurando o caminho da tua casa com o DVD do Winwood na mão esquerda e um livro de receitas italianas para estrangeiros na outra.

Não vou falar das três vezes em que morri. Nem sobre o que passei, nem sobre o que você passou e no pânico que senti, o que realmente aconteceu e muito menos sobre tudo que se passa comigo com relação ao seu novo amor, a cada novo fato que me é revelado ao acaso, feito alçapão.


Ainda me é muito difícil falar nele com você. Vê-lo no porta retratos em que já estivemos nós dois abraçados, nem se fala.
E eu sinto que com você acontece a mesma coisa, portanto, nunca insisto.
Deixa o bicho na natureza dele.

Mas repito: ele não merece essa sua paixão adolescente descabida.
Só eu mereço, viu? O quê?

Entendi, menos, Manfred, menos.

O que tenho mais urgência de te dizer, que é algo que eu não entendo – ainda é outra coisa.

Acho simplesmente inacreditável e insólito que eu tenha enfrentado, sido triturado, passado e superado tudo o que tive de enfrentar e superar -

e eu digo tudo para não ter que dizer cada um dos incomuns estados emocionais a que essa perda me submeteu desde que tudo isso começou a acontecer e a me engolir feito buraco negro –

e em nenhum momento, nenhum, none - eu tenha deixado de te amar.


Isso eu não consigo compreender. Again: é insólito, é surreal.

É o Dali & Gala syndrome revival que nos assola?
O que é mais complicado ainda, é que não é isso apenas.
Nem tão avassalador.

O mais complicado e cada vez mais difícil de absorver é que a cada novo fato, a cada nova surpresa ou revelação, sei lá como chamar esses seus assaltos à minha alma... Parece que te amo ainda mais!

Calma, minha linda. Eu disse “parece”.
Se analisarmos isso em toda a sua profundidade e avaliar com mais vagar, com mais calma, eu vou chegar à conclusão que nada, nada, nada, do que aconteceu entre todos nós, conseguiu abalar o amor que eu sinto e tenho por você, Berta Zimmerman.


E eu te amo além de toda a posse e o que é mais incrível ainda: te amo mesmo sem você se importar com isso e ver que isso é muito, mas muito mais do que um simples ter de enfrentar esse “bicho” (sic) que te pegou desprevenida e te dominou completamente.
Or so you say.

Será que eu sou detrito cósmico? Será que eu sou fraco? O que será que eu sou e o que será que acontece comigo, minha linda fraulëin? Ou será que eu sou forte demais e nada egoísta e acredito no amor livre mais profundamente do que o hippie que ainda existe em mim (e que toma dois banhos por dia, como sabes)?

O que eu sinto é que esse amor insano na aparência que eu sinto por você é incondicional, e na verdade, lúcido. E o fato de você ter dado um novo sentido a sua vida está me libertando de você e deixando o novo amor entrar na minha vida, diretamente no meu corpo, na minha alma, no meu coração.

You Can Come, i'm ready.

Te amo demais, mas acho que começo a me encantar com essa nova possibilidade de amar e me apaixonar pelo anjo da revelação que vêm se aproximando de mim, nos meus dias, nas minhas manhãs, entre as árvores e me estendendo as mãos, me curando de você.

Não sei. Talvez só o tempo me diga o que sou. Talvez só uma pessoa que saiba de toda a nossa história possa me dizer exatamente o que eu sou, e mesmo assim, dada certo distanciamento emocional e imparcialidade de visão. Se não mora aqui em Budapeste, não pode entender o que aconteceu entre nós dois.

Nada conseguiu abalar o amor que sinto por você e ainda padeço da mesma vontade de estar ao seu lado, a mesma necessidade de fazermos amor na sala, a mesma necessidade dos seus beijos e das palavras de carinho e de prazer que você me disse e diria, não existissem fatalidades & imprevistos e o oportunismo da impiedosa ira de Saturno, que toma tudo no auge da sua revolução anual... Na verdade... foi ele quem me tirou de você e deixou seu caminho aberto. Impiedoso Saturno. Filho da mãe.

Quantas vezes, nesses meses todos, tive uma vontade desesperada de te ligar e implorar para a senhora me chamar... pra ficar com você, pra dormir ao teu lado (as noites que você estava em crise, não valem), para simplesmente ficar sentado ao teu lado, olhando pra você, para os seus olhos de mel. Para aquelas marcas.
Você não tem a mínima idéia. E eu não vejo nenhuma vergonha em te dizer isso.

Fodam-se os outros, foda-se o que eles possam pensar. E “fova-se docê” se não perceber a beleza do que estou te dizendo.
No Brasil achariam que eu sou um basbaca, É assim que se diz, c’est pás? Basbaca.
Ao menos, um basbaca nobre. U can drink that to my health.

É justamente por nada do acontecido ter abalado, destruído ou sugado o meu amor que eu ainda sofro dentro de um certo esquema controlado por diversos fatores.
Complicado e malabarista que só vendo. Não vem ao caso , ou ex-caso de amor & paixão & queda livre.
Mas eu vou me curar de você, Ms Zimmerman, já estou quase ali na curva da estrada.

Claro, tenho recaídas inexplicáveis.
Você me faz uma falta insuportável.
A sua voz, o seu cheiro, a sua pele.
A ausência de tudo isso junto.


E ao mesmo tempo em que eu sofro por essa ausência, por não poder ter essa deliciosa sensação que a sua voz, sua pele, seu corpo e seu cheiro próximos causam em mim, e saciar a minha carência de você dos pés à cabeça, a possibilidade de ainda sentir a força disso dentro de mim me faz feliz e me causa outra sensação que só eu sei a delícia que é.


É como pequenos orgasmos involuntários disfarçados de soluço, que um pequeno movimento da mão cobrindo os lábios disfarça muito bem, esteja eu no Pizza Hut ou sentado a beira do Danúbio, que sem você, é realmente Blue. Mesmo escutando o que Zawinul escreveu para ele. que me conforta e muito. Pobre Joe. Se foi.

Eu fiquei a ver teu navio, Berta. Um avião, na verdade.

É uma sensação alucinante que eu gosto de sentir e que de certa forma, me satisfaz, sacia a minha sede de você. Aplaca meu vício.
É um tesão permanente.

E o ingrediente mais poderoso desse meu vício.

The Perfect Drug (by NIN or me).

Vez ou outra visto uma das malhas de cashemira pela 1ª vez, aquelas que me destes naquela última manhã do último dia do Carnaval de Veneza, e que ainda mantém seu perfume.
Saio andando alucinado em surto de paixão, suando pelas praças e alamedas, e ofegante, misturo uma vez mais nossos cheiros.


Duas horas depois me vejo exausto e estendido sobre a grama do parque Népliget, coberto de suor & felicidade. “Outra vez, Dr. Manfred, outra vez?” sempre me diz Jamal, o vigilante turco do parque quando me encontra estendido ao lado da bica de água. “O Sr. não ter jeito, dotorr, naum tem. Posso ajudá?”.

È aí que eu volto quase ao início de tudo, 'ao motivo inicial dessa canção' e te digo de novo que não espero que você entenda nada do que te escrevi, porque eu também ainda não entendo nem consigo aceitar.

Como também não entendo como é possível você voltar a Firenze com meu guia de cafés e não me escrever um cartão postal que fosse... Degustando um belo expresso numa daquelas mesas na calçada de 1000 anos... Pensei tanto nisso, sua malvada.
Como você conseguiu fazer isso, bella Berta?

Onde você aprendeu a ser tão má assim.

Como Mae West, when you're bad bad, you're at your best, honey?

Is it?

Algumas coisas que eu ia escrever, acabei de te dizer na web cam, não pude ver os seus olhos direito, evasivos. Suportei muito bem teu silêncio e essa respiração alterada e curiosa, mas não vou repetir porque senão você vai ficar com a bola cheia demais de si. E é capaz de explodir. E isso eu não quero. Quero você inteira, sempre.
Todas aquelas curvas ao lado dos precipícios certos e trilhas conhecidas

e a nossa cachoeira.

Tudo o que aconteceu de lindo entre nós me transformou nessa pessoa idiota (mas feliz) que te escreve coisas absurdas e das quais tem orgulho imenso de poder sentir e dizer, embora saiba o quanto é difícil pra você admitir isso e demonstrar algum afeto, some emotion, enquanto escuta eu dizer a minha fala de malandro old school bem intencionado... que canta maliciosamente ao pé da web cam... Eu sei que vou te amar... como se fosse o velho poetinha em pessoa, chegando ao 3º uísque e já abraçando a moça...

Eu bem que tenho tentado sair com outras mulheres e mesmo assim, quando saio, não sinto um décimo daquilo que você me faz sentir com simples beijos da sua maravilhosa boca. E isso é uma tristeza quase que infinita pra mim. Só elas pra me fazerem não pensar em você desse modo obsessivo. Mas não funcionou.
Já me aconteceu duas vezes. Peninha. Mas isso já começa a mudar.

Vou ter de me apaixonar de novo. Eu que prometi a mim mesmo que não ia me apaixonar quando te reencontrei no Coliseu.

Bem que tento me afastar de você, mas não consigo. E por isso têm situações que eu tenho que enfrentar. E encarar. E suportar (ai!ui!)
Como aquela marca que eu descobri. Pode até doer na hora, como sempre dói, mas...

Mas estou mais forte e até agüento o tranco. E cada vez que isso acontece, eu cresço. Eu melhoro. Me transformo num ser humano melhor, creia-me. Tenho mais certeza ainda daquilo que sinto por você e pelo mundo. É um amor que independe de qualquer condição.

E isso – mesmo que eu chore um pouco, que sempre é um choro renovador e me faz bem ao lavar a alma e esse coração escolado – me torna um homem feliz.
Um homem que consegue amar alguém, como eu te amo, independente de tudo e de todos. Um homem que consegue amar e que jamais conseguiu colocou em seu coração um sentimento de ódio ou de rancor sobre você. Em você eu só coloquei amor. Lots.

Alguém assim pode amar todas as mulheres do mundo, mas provavelmente sou a desgraça do gênero masculino.
Isso me torna um homem tão feliz que consigo até sentir que já posso me apaixonar pelo anjo que surgiu, sem qualquer peso na consciência...

... Deixar meu coração livre a aberto para que essa pessoa entre e seja o que mais preciso nesse momento: carinhosa e sensual, mulher, centrada em mim, nesse momento. Manfred precisa de carinho, de atenção, de cafuné.
E muitos beijos. Ah, sim. Tons of kisses, fraulëin.


Percebo que nosso amor é eterno, mas nesse momento, parece que cada um de nós alimenta uma nova paixão e já não posso mais deixar a felicidade passar e perder o bonde dessa nova história.
Vou embarcar. Farewell, my Lovely. (Te vejo na semana...)

Fique bem e sempre se lembre desses absurdos emocionais todos que me acontecem, onde quer que você esteja.
Tenho absoluta certeza de que qualquer mulher se orgulharia disso, de um eu assim como eu, amando-as no matter what....
Desse sentimento tão puro que alimento por você, e que é invulnerável, suporta até kryptonita, verde, vermelha ou translúcida.
Levando-se em conta, claro, que você não é qualquer mulher.

Direto do Corpo, da Alma e do Coração, pra você, minha linda fraulëin.

Minhas recomendações a senhora sua mãe, quando encontrá-la em Salzburg, nas bodas de ouro de Chérie & Lindsay.



Manfred N.

Os. Sinto uma falta lascada do seu café de Bialetti na madrugada. Mulher má...

2 comentários:

  1. mesmo que o céu se feche e as nuvens tragam chuva sera um sabado de sol e um domingo de luz,por que com tanta poesia e sentimento ,tudo será melhor e melhor a cada dia quando conseguirmos ser e ter coragem pra falar de amor explicito e ser babaca não faz mal nenhum,abjs cesar

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