domingo, 30 de agosto de 2009

Prisoner of the white lines of the freeways




Either he's going to have to stand and fight


Or take off out of here


I tried to run away myself


To run away and wrestle with my ego


And with this flame


You put here in this Eskimo


In this hitcher


In this prisoner


Of the fine white lines


Of the white lines on the free, free way...




Quando não consigo descrever sensações que me vão pela alma, há sempre uma música ou determinada sonoridade que se encaixa perfeitamente na descrição daquilo que sinto.


Coyote, do Hejira (77) de Joni Mitchell é uma delas, com a vantagem camaleônica de que sempre descreve hábil e musicalmente pra mim a presença do desconhecido e da surpresa inadiável na minha vida, naquele momento.


Ou, como nesse caso, me servem de alento.




Prisioneiro das linhas brancas da autoestrada, ela canta.




Nesse exato momento, não sou mais que um prisioneiro das listas brancas de uma faixa de pedestres metropolitana, com carros buzinando, gente falando alto, gentalha gritando, playboyzinhos de pilequinho perdidos no centro, o flanelinha que mora na calçadas e canteiros em frente de casa em mais um de seus surtos psicóticos - em geral, um surto circuito, onde se une a Don Quixote e Corleone trabalhando em dupla para derrubar todos os moinhos em transito que atrapalham a tomagem-de-conta dos carros estacionados ali, sob sua supervisão. E ele surtando ao longo da tarde, e nóias atravessando a avenida aos gritos, talvez atrás de outros moinhos, sem olhar para os lados, guiados totalmente pelo ímpeto do crack ou da cola, e em geral, se dando bem e escapando ilesos por entre os carros e os gritos alucinados.


Fecha o sinal, automóveis brecam, passam pedestres agitados na saideira, motoristas xingam motoqueiros que xingam condutores de onibus que mexem com a traveca montada agarrada a um pitibói atravessando a faixa em frente ao Terraço, com o pé no acelerador, enquanto aguarda o sinal verde.


E dá-lhe escapamento aberto cortando o silencio da madrugada e rasgando a avenida como gilette, como buzina a ar de mega caminhões, arrancando qualquer cidadão normal a socos do mais doce sonho. Batidas de carro com moto e moto com pedreste. E muita gente bebada dando escandalo, e muito abandonado e sem teto drogado fazendo barulho, e muita gente que acha que é dona do mundo e da razão gritando palavras de ordem ou de baixo calão.


E gente abusada instalando loja na madrugada e descarregando lixo depois da meia noite, e um irresponsável restaurante do Terraço Itália jogando fora milhares de garrafas de vinho e cerveja na madrugada e ultrapassando os limites de qualquer medidor de decibeis sem fazer força... O estresse de fácil acesso 24 horas non stop. É só abrir a porta da rua e ele pode te agarrar, como uma pandemia, virose. ou meliante


O estresse criado pela cidade que ninguém jamais pode resolver ou interferir no exato momento em que invade a sua vida. E que vira a pedra no rim do cidadão, a gota que faltava antes do enfarto, a úlcera.


É só não ligar o som, é só abrir todas as 10 janelas, é só tirar o algodão ou o fone do ouvido, é só não ter paciencia com as crianças do vizinho que destróem uma linha de móveis por dia e cavalgam 250 m de apartamento com maestria sobre a tua cabeça (o chão deles, o meu teto), ou não relaxar com o interfone anunciando a pizza que você jamais pediu e nem se importar um tantinho que seja com a furadeira da vizinha recem chegada, da esquerda (sim, porque na direita não tem ninguém. Só em frente, a esquerda e a direita também...) as 23 horas, ou com o poodle toy latindo no fundo esquerdo da sua mente (será que ninguém percebe que ele está latindo, meu deus? Só eu?) ... É só não fazer nada disso, não se remover desse espaço físico mentalmente e não afastar a consciência do barulho que vem impiedoso da rua (thanx god o ruído infernal da Love Story não alcança aqui) para focá-la em algo, como música, trabalho ou criação, que o estresse externo acaba invadindo teu santuário, físico e mental.


Com força total.




É nesse momento que teu equilíbrio desmorona.


Haverá força suficiente em minha mente?


Minha alma está alinhada com minha consciência?


Meus reflexos tem poder suficiente para afastar essa invasão de ruídos e barulhos unidos a um som e uma fúria que a cidade criou e que simplesmente não consegue mais controlar nem poupar seus residentes?


Manterei a sanidade?


Escaparei dessa invasão?




Do I have to stand and fight
Or take off out of here...?






sábado, 29 de agosto de 2009

Escondidos na curva da estrada

Depois do 1º bloqueio e da primeira blogada, desbloqueado, veio a fisioterapia, os choques no menisco, as microondas na superfície do joelho, o café instantaneo de 60 centavos e o movimento do vaivém incessante bairro-cidade das centenas de pessoas lotando diferentes onibus e aquele ponto com a maldita calçada lateral toda arrebentada (que ainda vai me arrebentar o joelho esquerdo...) e suas pedras bicolores todas espalhadas servindo de depósito acessível de armas improvisadas e disponíveis para o exército brancaleonóia dos botões que circulam pelo pedaço, aquele desprovido exército de crianças miseráveis que vive a guerra noturna, eterna e breve com seus próprios semelhantes pela fulgás sobrevivencia. E as noites viram semanas e depois meses e de repente, um a um, eles caem e viram o pó da Consolação, da Sé ou do Glicério.
No Hyde Park isso não acontece... Mas no Cruzeiro do Sul... E foi só nessa hora, descendo do onibus na calçada detonada, que percebo que ter caido na tua armadilha... (Em inglês, uma palavra tão espanhola como armadillo quer dizer tatu.)

Você me blogou irremediavelmente. Estou preso aos textos que ainda não existem, que não foram escritos e estão a milhares de comandos enter a frente desse ponto nesse texto e que só virão à tona na minha direção e através de meus dedos se meus dedos continuarem a tocar a música das palavras que saem da minha partitura na direção deles. Nesse momento, os dois textos se cruzam para se reproduzirem em dois textos laterais de apoio e descrições, onde um terceiro central segue em linha reta adjetivando os verbos de motivação e constante realização na trilha da transcedência pessoal temporária entre contos, cronicas, críticas, resenhas, poemas, quotes unquoted e poemetas, esses poemas que surgem da interação das postagens... Como esses dois (que estavam milhares de comandos a frente, escondidos na curva da estrada):

Um sentimento estranho, bizarro todo esse tempo aparentando Linho bastou tocar, pra perceber, estupefada que nunca deixou de ser Nylon.

Patrícia Figueiredo, Paris, 2009

Entre nós, o Wall de um facebook colocando-me momentaneamente na Place des Vosges e trazendo Patrícia para uma informal caminhada na República, por entre as barracas de artesanato & alimentação (baba de anjo: R$ 2).
No caminho, pelos corredores, é claro que trocaremos um beijo apressado e um abraço apertado de irmão e irmã que nunca fomos, mas nos sentimos sem qualquer esforço ou experiência anterior.

Quem nasceu pra nylon
não chega a linho.
Linholene já é mais fácil.

Mas triste mesmo
é aquela miserável
sensação de camisa
Volta ao Mundo
pendurada no cabide do varal
após a milésima lavada,

levemente amarelada
secando pra fazer par
com calça colorida de nycron
e dançar um tango portenho
cambaleante
apertado no passo doble
vencido.

Caio Nehring, SP, 2009

enquanto o café não fica pronto...

...passo pela momentânea emoção do meu primeiro blog, do meu 1º bloqueio frente a página branca do monitor. Enquanto teu italian coffee ñ fica pronto, escuto o que imagino ser Eleni Karaindrou, provavelmente trilha de algum filme pouco conhecido (aqui) deTheo Angelopoulos, com aquela sonoridade dramática que só ela consegue imprimir em suas composições. Uma desolação que não combina com cheiro estimulante do teu café e do sol explodindo na paisagem da janela de sábado ao meu dia.