sábado, 24 de abril de 2010

Padrões repetitivos (Tsuãnima) revisited

(Tsuãnima by me, CaiON, que shared fotos aéreas do fenômeno on the net through Google)

FeceBook, Faces & Future Books, Faces in the Book, not always by the book, but always for the records in the books, love & peace...


Caio Nehring: Padrões repetitivos

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Padrões repetitivos
(Your heart?)

Yesterday at 1:48pm Edit Note Delete



Suportar o insuportável.


Vou ter que suportar o insuportável.

Esse foi o último pensamento que Teodoro teve antes de desmaiar de cansaço naquela noite.

Suportar o insuportável.

Exausto pelo demorado exercício mental a que Gertrude o submetera, quase caiu no sono ali mesmo, na frente do monitor.

Escreveu durante horas e botou pra fora todos os fantasmas e demônios que dominavam sua alma.

Não estava mais tomado pela depressão, nem pela dor da rejeição, mas cansado, aquele cansaço que bate em todo mundo que passa dias sob pressão e ansiedade antes de um casamento, do preparo de uma festa, de uma apresentação ou do deadline de um projeto qualquer.

Suportar o insuportável, ele pensara, na verdade é isso: enfrentar essa rejeição muda de Teodora, olhando para o lado positivo dessa ruptura.

Mas o que há de positivo em ser a porra da carta fora do baralho dela, o que pode existir de bom em ter todo o seu amor ignorado pelo objeto dessa adoração?

Ele não tinha idéia do quê. E desmaiou, cansado. E aliviado, de alguma maneira.É claro que tudo que escrevera sobre a partida de Teodora ainda permaneceu um bom tempo em sua mente, naqueles momentos de vigília antes do sono e é óbvio que

Teodoro acabou sonhando com ela e acordando sobressaltado no silêncio da madrugada.

Tão sobressaltado que demorou a acreditar que já estava acordado, enquanto andava pelo escuro do apartamento procurando seus cigarros. A sensação de que Teodora estava grudada em seu corpo não o largava. Estava úmido. Quente. Quando acendeu o cigarro e viu que Teodora não estava em lugar algum a sua volta, despertou e soube que a presença dela resumia-se agora a uma leve sensação de que estivera com a cabeça encostada em seu peito, no sonho, vai saber. Será?


E havia a cachorra lambendo seu pé, em plena madrugada. Pára, Cacauette, pára!

Deu o último trago no cigarro, olhou para a entrada do Itália pelo vitrô da saleta, voltou para o quarto da lavanderia, silencioso como ele só (fazia anos atrás) e caiu no sono de novo.


E não sonhou mais com Teodora. Sonhava apenas com uma voz que emanava do painel de pequenas fotos na cabeceira da cama. Em que foto estaria a voz que lhe dizia para suportar o insuportável? Não importa, dizia a voz.


Apenas tente fazer o que estou dizendo, babacão!”


Acordou bem na manhã seguinte. Quarta feira. Tinha muito trabalho pela frente, o magazine da gringa NYC mandara três novas traduções para acabar até segunda, uma sobre o apocalipse, na visão de 12 cientistas top de linha reunidos numa cabana no topo de uma montanha em Telluride.


O que ia dar muito trabalho à sua cabecinha para sequer pensar em suportar o insuportável.

E nos dias que se sucederam ao tsunami emocional que passara, quando Gertrude o tivera sobre controle e sua mente e seu coração, Teodoro começou a inventar mil manhas para não se entregar ao sofrimento e suportar o que viesse pela frente, pensamentos e encanações que invadissem seu coração e mente, medos, dores e correlatos aquém chacoalhando seu íntimo nas marcadas sentimentais que sua alma ainda lhe aprontaria.

Always manage your tools with ease, dizia meu bródi Scott, de New Hampshire, ao que Walther Dunfey, outro buddy do mesmo hostel, retrucava, "And keep' em o'ways clean & oiled, damn u!"

The tools are everything, Bia teclou no skype na tela de Teodoro...


E descobriu que quando mantinha os músculos do rosto livres para sorrir, não conseguia ter um pensamento sequer negativo...


"Teodora te abandonou e fim. É essa mulher que você amava e que nem se importou em discutir a relação dos dois.

Essa mulher que abriu uma ferida na sua alma. Essa ferida vai te dar um bom trabalho. Você precisa curar essa ferida, Teodoro. Como você vai fazer isso? Suportando o insuportável, jacaré?"


Descobriu que quanto mais a visse nesse período day after, seria melhor para lidar com o sentimento de perda. Vê-la e convencer-se que não era mais sua. Ou que poderia encontrá-la por acaso com um novo namorado. Falar com Teodora e sentir as mudanças de voz, e tentar adivinhar o que estava acontecendo na vida dela agora que ele não estava incluído. Teodoro descobriu que tudo isso conseguia afastá-la de sua mente. E claro que do coração.Teodoro saiu e encontrou-a algumas vezes. Nesses momentos a observava atentamente. Tentava entender como se apaixonara pela mulher.


Procurava descobrir se ainda havia algum tesão rolando. Olhava para o perfil dela no escurinho do cinema e se perguntava: amo esse perfil, vê-lo me faz falta ou não? Será que ela está feliz de me ver bem?

Olhava cuidadosamente para os seios fartos sob o pano das malhas e blusas e procurava descobrir se aqueles bicos estavam tesos ou relaxados.

Olhava despercebidamente para as curvas dos seios, quando se revelavam sob uma blusa mais aberta e tentava saber se isso lhe despertava a mínima sensação de excitação que ia cada vez ficando mais distante de sua memória da pele.


E foi num desses momentos de observação zen que Teodoro conseguiu pela primeira vez afastar-se totalmente de Teodora e observa-la de um ponto de vista totalmente inédito para ele, e sentí-la realmente sua amiga, companheira de uma jornada que acabou aqui, mas recomeçou ali, next level.
E foi no futuro desse processo todo que ele descobriu que agora não era apenas trocar de par. Mas trocar a vida e tocá-la, sempre em frente, UP, como você diz, Mon ange.

Ele olhava para o movimento dos lábios dela quando se perguntou, “porque diz certas coisas tão preconceituosas como essa que seus lábios estão articulando?”

Examinava suas expressões de rosto e procurava adivinhar o que realmente significavam.

Olhava para os olhos negros dela e procurava descobrir se havia beleza por trás deles, lá no fundão mais recôndito daqueles olhos que foram a primeira coisa que Teodoro conhecera antes mesmo de havê-la encontrado.

Ela mandara uma foto tirada em um coquetel da Editora G@, quando lançara o livro da mini-série, na livraria do Rio de Janeiro.


Na foto, só se viam os olhos de Teodora, um copo de cristal com champanhe encobrindo seu nariz e boca e os longos dedos e cabelos daquela mulher que deixaria Teodoro completamente apaixonado e em estado de graça durantes meses a fio.

Eram através desses olhos, e dos textos que ela escrevia para ele na internet, que ele se apaixonara.

Os olhos de um discurso amoroso que se tornaria, anos depois, um decurso amoroso. E o curso da amizade.


Até a Lua cheia do dia 7/10, aproveite para comparar tendências e teorias, tentando adaptá-las à vida real. Algumas irão embora com a Lua minguante, no dia 13/10, e é melhor assim, porque se provarão erradas e desequilibradas.



Mas não era fácil adaptar isso que estava em sua mente à vida real. Ele tentou, mas não conseguia. A vida real era o abandono ao seu novo destino e ele não tinha a menor idéia do que seria. Teodoro andava o tempo todo, no metrô, no ônibus, a pé, olhando nos olhos das pessoas... e esperando um sinal. Que poderia vir de uma pessoa, by mail ou via vida diária mesmo, que era mais provável.


(Tá Certo. Às vezes... olhava para trás, quando as mulatas passavam. Teodoro parecia português. Adorava olhar derriére bem feito de mulata. Principalmente as de olhos verdes, azuis e lábios fartos.
Mesmo as que calçavam 41.
A visão delas era epifânica, e às vezes, como aquele dia na frente da entrada da estação Clínicas, uma delas olhou-o por sobre os ombros delicados, piscou um olho, estalou a língua... Ái, ui...
Teodoro teve que sentar no ponto de ônibus, inspirar, expirar, de novo:
A primeira mulata sapeca da semana: ela estalou a língua!
Aliás, nessa hora Teodoro nem lembrava sequer dos olhos negros por trás do copo de champagne. A mulher não existe mais.
Já tô indo, Esmeralda, Leonor ou Dagmar... E depois café, cigarro e muitos beijos pra tu me dares...)


E se perguntava... iria alguma delas salva-lo daquela solidão?

Será essa, a chinesa dark?

Aquela médica indo para o carro? A suave doce operadora da bolsa, com terninho risca de giz e lenço violeta no pescoço, delicado? A agridoce caixa atrasada da Droga Raia, mordendo a gengiva, roendo as unhas?

Ou será a Lolita de cabelo violeta e piercing nos nipples? Será a Benedita ou Benta, a tímida, ao lado da porta de saída com o pacote de Budweiser na sacola das Americanas?

A prenda domésticas que saiu de casa e só tirou o sutiã no metrô, longe do maridinho... sentindo-se livre e solta..?
A antiga paixão de escola, dos vinte e poucos anos, que o acharia, e ele sabia, tinha certeza, previra, mais cedo ou mais tarde, comme il faut...


O que Teodoro sabia muito bem: só um novo amor podia salva-lo
e resgatá-lo.
Não só, não apenas. Mas ia ajudar pra burro no próximo natal - ali, virando a direita - quando a sensibilidade do herói iria as alturas e atravessaria todas as fases da fuga e do nascimento do menino Deus todo santo greyhound day, e ia virar um rei mago em meditação profunda, três vezes por semana. No Natal, sempre foi fácil ferir Teodoro. Ele sentia-se como o deus-criança nú na manjedoura di halll principal.
No More, No More Mr. Nice Guy, Alice dizia.

Mas precisava (embora não quisesse) deixar a coisa acontecer na-tu-ral-mente. Acontecera uma, e duas, e três, e quarenta e duas vezes, por que não aconteceria de novo, inesperadamente, mas infalível (para salvar a pátria dele, sem dúvida, tão necessitado de uma boa injeção de sexo selagem, suave, carinho, afeição, entrega e sonoras gargalhadas a dois no escuro do edredon branco)?


Era assim que funcionava: tudo é passageiro (menos o motorista).Tudo passa (inclusive o poste e a uva), e essa pessoa que Teodoro é hoje, amanhã já não existe. Já era.

Sil diria, em meio a boa risada, 'tudo tem começo, meio e fim'.

Contra o que não há argumento confiável, nem lógica passível (plausível, colega?). Mas já paga ao contrariar, just in case, comenta Moraes


E era isso que ele queria: deixar pra traz essa pessoa machucada, batida, surrada, com esse coração meio desbotado, botar aquele Teodoro usado até o bagaço pra escanteio e ser o novo Teodoro que adora mais a si mesmo e menos a próxima Teodora.
E ele sabe que a tarefa é árdua.


Quem sabe até mudar de nome.
Theodore? Lindsay? Jacinto?


Não isso não. Teodora já quase não existia mais, era só uma idéia do que fora uma paixão. Agora, Teodoro sempre se chamaria Teodoro.

Podia ser até uma nova pessoa, menos servil, menos padrão canceriano de apego, de lembrança, de desapego, menos bonzinho.

Quem sabe, até mais filho da puta (Sorry, mãe), falso, aproveitador.

Mas seria sempre Teodoro. Apaixonado.Mesmo sonado.

Sempre cheio de amor pra dar porque era amor que movimentava o seu ser e ele adorava adorar as pessoas e tê-las bem em seu coração.

Aliás, Teodoro amava todas as mulheres do mundo, básico.

As feias, as bonitas, as mignons, as carnudas, as coxas, as mancas, as zaroias, as peitudas, as tábuas, as bravas, as doces, as malacostumadas, as autoritárias, as mãezonas devassas... todas tinham um encanto especial.


Até a mulher de seu Manoel, na cozinha com aquele buço enorme... Experimentando a buchada na colher de pau...

Depois do expediente, Alzira era carinhosa e até sorria pro Manoel, que toda noite após as 23hs, ia pro céu.


E voltava pra abrir o California, de manhãzinha, com uma dorzinha gostosa nas costas, nos joelhos, na articulação... tão gostosa... ele, o cozinheiro e o sócio-portuga da vez...
Por falar nisso, aonde andaria o Sr. Adriano? Sumiu do Califórnia, você viu?

Teodoro, você não tem jeito.

És aquele que adorava a Teodora e agora sabes afinal que Teodora na verdade, seria sempre a sua próxima Paixão. Who's next?


Fosse ela quem fosse, ele adoraria adorá-la e deixaria escapar um Te Adoro, Teodora. Adoro te Adorar. Teo.

E do jeito que a coisa estava indo, a sorte parecia estar sorrindo para ele.

O coração já se preparava para dar outro salto, e quando pensava na antiga Teodora, começava a sentir pena dela, misturada com saudade.

Quando ele almoçava com a brejeira professora de yoga, ele olhava para o olho furta-cor dela, sempre olhando diretamente pro rosto moreno dele, e pensava: os olhos de Teodora não encaram assim, eles piscam em todas as direções, são nervosos.
E não olham direto pros seus olhos.
Quando passava e conversava com Céu, dona da banca de bicho da Gabus Mendes (grávida pela primeira vez aos 37), ele pensava:


- (Ela não diz nada que não seja positivo.Ela não fala mal de ninguém. Nem do governo, nem do vizinho, nem do calor. E se falava, colocava um certo balanço no comentário...O Seu Manoel é mal humorado, mas tem um coração de ouro! A Ivetta é desbocada, mas faz um camarão na abóbora que você não faz idéia! Era sempre assim.Você é um filho da puta, mas eu gosto de você assim mesmo, Teodoro! Céu ia além do limite. E falava olhando pra sua boca, nunca entendi. As vezes levantava os olhos até os seus, mas logo voltava a baixá-los e a encarar os lábios de Teodoro, como se fosse sugá-los. Céu, as vezes, ia além do limite, mas esse é um outro causo.)


Mas Teodora... ela só abria a boca pra reclamar. Ta entendendo, Teodoro? Só pra reclamar? Nada de eu te adoro, Teodoro... Quero mais você... Posso beber duas caixas de você... Me ama, Teodoro.

Me abraça, amorzão! Nadica de piripitiba.

Era só " 'tô devendo o condomínio, ninguém me liga da editôra, entrei no especial, quando esse menino chegar aqui eu esfrego o nariz dele nesse chão... O cara não me pagou... Acabou o quindim? Compra um Tylenol pra mim, agora? Você leva ele na escola?"

Dois mil e sete já está aí, Teodoro... Dois mil e vinte em 14 anos.

E ela ficou na curva da estrada.

Você não perdeu nada.

Ela perdeu você. Babacão.

Que perdeu uma paixão,

e ganhou uma aliada,
para a vida, vechio novo.




Novembro/2007, Sorocaba.

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