sábado, 12 de setembro de 2009

A Blues for Allah or I'm a Deadhead


só sei que estou cansado. só sei qual é o meu nome e que estou cansado. quero deitar e acordar em dez anos. quero deitar e só acordar num outro mundo. ou quero acordar desse pesadelo, onde todos morrem, menos eu.

eu só quero acordar e ver que todos acordaram para o mesmo sonho que eu. eu quero tanta coisa. eu quero tanto e te quero tanto, mas nesse exato momento eu só quero apagar, eu só quero morrer. ele dizia que eu te amo muito, mas agora eu estou cansado e por que não, eu também.
que fique claro que quero morrer, mas temporariamente. quero apagar para o mundo por um tempo enquanto quem sabe ele melhora, ou desligar-me enquanto a raça humana melhora ou não, ou até amanhã, que seja.
eu só quero morrer um pouco para o mundo e chegar ao fim do dia, quero que o mundo me esqueça como quem esquece de um botão que precisa girar e não gira, ser esquecido e não ser atingido por todas as desgraças direta ou indiretamente, todas as novas desgraças que vão trocando de lugar com as últimas desgraças em manchete online, sem dar tempo de assimilar a desgraça anterior, a morte de dezenas, centenas e milhares de almas que também já estavam na medida do querer morrer para essa mundo que não nos dá nada além de desgraça, exploração e sofrimento. eu só quero morrer mas sei que não posso ser duro assim só porque o mundo é uma merda, ou melhor, se tornou uma merda, mas em geral, eu não quero morrer para esse mundo que nos dá comida, água, ar, fogo e muito movimento e uma infinidade de outros mundos através das pessoas. e claro, da tv, da net e imprensa.

em geral esse mundo que me alimenta por todas as vias só me faz querer viver mais e mais e conhecer mais até chegar num ponto que nada mais haverá para saber além daquilo que não sabemos que é preciso saber, mas isso nunca foi contado a ninguém, e portanto ainda não sabemos o que deveríamos saber, o que nos faz cada vez mais homens e menos perto de tornarmo-nos deuses, sempre a um passo da ignorancia, pois o grande deus não fala por palavras e até interpretar toda a cena entre você e ele, e descobrir o que precisamos saber, em palavras, o criador e ao mesmo tempo criadora, pois é mãe e é pai ao mesmo tempo, já terá escolhido uma outra opção, o que te deixará tão cansado, contrariado e com vontade de morrer e se apagar para o mundo como eu me encontro agora, depois de passar seis horas seguidas sentado numa cadeira frente ao computador vertendo para o inglês um release para profissional de fotografia nada humilde que não gosta de bom gosto e nem de senso comum e se orgulha de ser abrigo e porto dos abandonados, dos rebeldes e dos marginais.

enquanto finjo que quero brincar de morrer e vê-la com a mais ampla e bem humorada visão budista, como uma festa e o adeus a ignorância, um intervalo, uma curva na estrada, uma mudança de plano (de qualquer um que não seja cruzado) e missão, o próximo nível, o mundo invisível, sei que o tio dela morreu, em uma agonia passageira, anunciada e breve e que nesse momento, salvo engano, titio voltou ao pó, que em algum momento, será espalhado pelo ar e respirado por seus descendentes.

nesse momento só quero, como ele, ser espalhado pelo ar e ir aos poucos descendo e repousando sobre a superfície noturna de uma praia selvagem, escutando nada mais que o som incessante, contínuo e eterno das ondas do mar e do player dos últimos privilegiados frequentadores, a distãncia, tocando blues for allah, dos dead (yes. i'm a dead head), naquela noite de verão.

Grateful Dead: Blues For Allah, 88
On the player: Track 6, The Music Never Stopped.
Cover: Rick Griffin

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