segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cara a Cara com Chrissie Hynde


Chrissie Hynde drops in...terview (Maio/2005)

Depois de assistir parte da entrevista que Chrissie Hynde + banda deram a Penélope Nova na MTV (na hora de escolher o clipe, deu branco na morena de Ohio, e em vez de dizer Don’t get me wrong, ela disse Middle of the road.), foi minha vez de entrevistá-la pela revista MTV.

Espremidos entre o fim do programa Penélope e o ensaio, restaram perto de 'longos' cinco minutos para batermos um papo. Descontraído? No way.
Eu estava nervoso. Minha primeira entrevista com uma roqueira famosa, uma de minhas “ídalas”, in english.
E ela parecia bem inquieta...

Entraram todos na salinha de RP e Miss Chrissie e eu sentamos num canto, ao lado da porta. Visivelmente preocupada com algo, olhava o tempo todo pra ruivinha que mora no meu prédio e a hospeda, sinalizando silenciosamente pra ela, “Vai, começa, fala rápido.”
Entrei logo com a primeira pergunta que me veio à mente, pra ganhar sua atenção e fazê-la falar, desligada da secretária e da banda, cuja presença física ali era um estandarte vermelho com letras brancas, onde se lia “Vamos logo que a gente tem que ensaiar!”.

Comecei falando de Tim Buckley, ícone-pai de um ícone-filho, Jeff Buckley, ambos já falecidos. Ela entrevistara o menestrel nos anos 70, pelo jornal New Musical Express. E dizia, no início da entrevista: “Não gosto muito de fusion, mas Tim Buckley era a exceção da regra. Ele fazia a fusão redondinha: você não podia dizer ao certo o que ele estava fazendo, pois o que ele fazia não era rock, folk, ou jazz...” (Pelo menos a lição de casa eu fizera e lera todo o possível sobre Hynde.)

Pergunta: Em 74 v
ocê dizia que não gostava muito de fusion, mas abria uma exceção pra Buckley. No entanto, nos últimos seus três ou quatro álbuns, a gente sente que a musica mudou, afastou-se do rock na direção da fusion music, adicionando ritmos e sonoridades do reggae, ska, groove, misturando Hendrix e até standards do american songbook...Você não acha que seu som entrou numa fusão, digamos, saudável?

Chrissie Hynde:
Eu não sei o que significa fusão... É tudo música para mim.

(Desisto de explicar o que ela sabe. De repente, Chrissie ficou brava. Acho que com o rock.)

P: Você deixou o rock pra trás, o que aconteceu?

CH: O que aconteceu? Eu simplesmente... Eu... O rock’ n’ roll acabou para mim... Apenas “rock” não é bom para mim, não mais... Não quero escutar nem saber mais de rock pelo resto da minha vida! (alterada)

P: O seu som ficou mais soft, mais sutil...

CH: Espero que sim, de verdade... Se eu continuar a fazer música, é isso que eu quero... Eu nunca mais quero estar na revista Rolling Stone pelo resto da minha vida... Não quero mais ter nada a ver com isso... (alterada e desgostosa de algo)

Q: Isso me lembra Joni Mitchell, que se desiludiu com o universo da música e agora só pinta quadros...

CH:
Mas é diferente, ela não quer saber de música... Eu ainda amo a música e faço a música pela música, apenas isso. Talvez eu apenas esteja atravessando uma mudança... Sei lá... Só o tempo dirá.

Q: Que músicos e ritmos brasileiros te surpreenderam desde que você veio pro Brasil, quando te conheci?

CH: Eu não escutei muito coisa... Ainda não...

Q: E essa banda, do Moreno, Kassin e Domenico?

CH: Ah! These guys, Moreno +2... Esses “caras” realmente me surpreenderam e agora, tocando com eles... Eu acho que eles são fantásticos e muito, muito criativos.

Q: Você tem muito em comum com um artista brasileira, Rita Lee. Ela respeita e defende os animais, tem um senso de humor especial e como você, num mundo essencialmente machista do rock, é guitarrista e tem uma banda por trás dela... Você a conheceu?

CH: Nunca encontrei com ela. Eu a venho escutando por anos e anos, mas nunca a encontrei.

Q: E Mutantes, a banda original dela, você escutou?
(Faz uma cara de surpresa, encantamento, o primeiro sorriso da entrevista...)

CH: Sim, escutei. Escutei... É muito bom.

Q: Aconteceu algum fato engraçado ou curioso desde que você chegou ao Brasil, com as pessoas, enquanto você passeia pelas ruas... Tipo a gente ter se conhecido, por acaso, num elevador?

CH: (risos) Tudo acontece dessa maneira desde que cheguei aqui... São Paulo parece uma cidade pequena e eu passo o tempo todo encontrando pessoas, o centro dessa cidade é muito interessante, o grande mercado (Municipal) eu adorei, é como estar de volta ao passado...

Q: Você já conhece todo mundo das redondezas da sua casa...

CH: Ah! Não, não conheço todo mundo ainda... Desde que eu possa evitar a cena artística... A cena da moda (fashion)... Na verdade, evito todos esses ambientes... A cena musical aqui parece ainda estar não contaminada...a impressão que eu tenho é que música aqui no Brasil é uma parte do dia a dia e de tudo que acontece pelo mundo... Provavelmente sempre tenha sido, sempre foi... Mas eu era apenas essa roqueira tola querendo sair de Ohio e levou um tempão pra eu chegar a ser o que sou hoje...(?)

Q: E você acha que a experiência atual com essa banda vai acabar em “samba”, vai mudar profundamente seu som?

CH: Bem... Sim, vai. Espero que sim. Eu nunca quis ser uma artista solo, mas estou tão cheia do formato rock, estou tão cansada disso... E pensei, eu não preciso mais fazer isso. Agora me pediram para tocar algumas coisas acústicas... E eu disse “Vocês não querem isso de verdade, querem?”...

Q: É engraçado, quando disse que te conheci, meu filho de 17 anos, disse “Quem, a cantora dos Pretenders? Você está brincando, pai?” Eu sempre achei que teus fãs eram gente por volta dos 40, 45, como eu...

CH: Isso me surpreendeu (risos)... Incrível!

(Time’s over, diz a RP ruiva. Chrissie levanta imediatamente. Ela é alta, quase da minha altura. E a terceira vez que a encontro, sempre com uma calça de couro (fake, claro. Ela não usa couro natural e já havia me perguntado onde podia comprar bolsas de couro sintético colorido, de plástico, borracha etc., perto de onde está hospedada, no centro. Dei um toque dos camelôs na rua Dom José X 24 de Maio e ela acabou comprando mais de vinte bolsas, todas sintéticas.).

Reparo que é muito mais bonita pessoalmente do que nas fotos. Seus olhos são poderosos, brilhantes, nervosos. Deve ser uma pessoa bem nervosa. Ou realmente encheu-se dessa cena roqueira, dessa pressãozinha da RP, da MTV ou... quer realmente ensaiar.

P: Ensaio agora?

CH: Sim. Estávamos esperando Moreno chegar, ele já está no estúdio. Ah! Depois Domenico deixa os convites do show na portaria do prédio, OK? Não se esqueça de pegar o teu... Quero te ver lá, certo?

Beijinho, beijinho, tchau, tchau. E nunca mais vi Chrissie, e nem fui ao seu show com Moreno +2. O convite ficou na recepção do teatro e não na “nossa” portaria. Sem que ninguém soubesse dessa mudança, achamos que ela tinha se esquecido e ficou por isso mesmo. Depois eu ficaria sabendo que jogaram copos no palco, e que ela ficou “really pissed” e saiu do palco no meio do show... A entrevista também nunca foi publicada. Além de estar bronqueada, Chrissie não disse nada demais, e ainda por cima meteu o pau no rock, tudo muito deprê... disse-me o editor.

♫ ♫ ♫ ♫ ♫


Chrissie fala da entrevista a Buckley

Tim Buckley: "...the exception to the rule..."


In 1974, future Pretender Chrissie Hynde was living in London and writing for New Musical Express. A long-time fan, that year she interviewed Tim Buckley.

“TIM CAME OUT OF THE WEST COAST, the whole hippy thing, and really struck a chord. I've been a fan since Happy/Sad. It was the summer of 1969, my first term at Kent State University. Things were so different then. Stars didn't have the hype and exposure they do now: there was no Tim Buckley scene, you just happened to like someone, and I loved him. It coloured that summer for me, I listened to it endlessly. I couldn't recommend an album more for listening to in the summer. The very thought of it makes me think of a breeze passing through a curtain. Put Happy/Sad on now and it sounds like it could've been made last year. It has a unique, timeless sound and feel, and that voice was unlike anyone else's. A lot of people can sing their arses off but they don't sound remarkable, while others sound beautiful but stumble along. He had the lot. He sung from the right place, not just from the heart, but from the diaphragm too”.

“I generally don't like fusion, though Tim was the exception to the rule. He was all round fusion: you couldn't say what he was really doing, because he wasn't rock, or folk, or jazz... I was quite shocked when I heard Greetings From LA, with stuff like ‘get on top of me, woman’ -- the same way as when I expected Marc Bolan to be this little elf, but got a guy in green lame.”

“When I interviewed Tim in 1974, I had no idea what to say. I hadn't done the right journalistic thing and listened to his whole catalogue: I was still a smitten fan from that summer, going about my merry way. He struck me like a vagabond, a minstrel, quiet and shy. I didn't know him well enough to say, ‘What's happening, Tim, how's it going?’ If anything, I was star struck. I kept looking at his throat, thinking about his voice, thinking that he was just sitting there but could break into song at any given moment and transport me somewhere. Not that you'd say, ‘Sing us a tune’. You treat them like you're handling a very valuable violin.”

“It was a year before he died. He didn't seem like a happy-go-lucky kind of person, more of a troubled individual, but knowing his music to be so sensitive and deep, that's the kind of personality you'd expect. What I tried conjuring up in that NME piece was this: I'm standing there at night, in Kent, Ohio, and a freight train goes by. This girl jumps on, and writes her name on the train, and jumps off again. That was my image of him -- that traveling vagabond, the minstrel. 1969 was the Jack Kerouac moment for me.”

As told by Chrissie Hynde to MOJO Magazine








Nenhum comentário:

Postar um comentário