quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Deusa Esquecida

Leonard Cohen and Joni Mitchell 1967






(Editor/Quinho: Caio pira tanto na Joni Mitchell que nos mandou, além da coluna, um fragmento do pensamento dela:)

“Miles Davis e Picasso
são meus heróis,
pois temos algo em comum.
Somos inquietos, incansáveis e insaciáveis.
(Joni Mitchell, Ottawa Post, 2001)


A Deusa esquecida

Após viver dois lados da ilusão pop, da glória ao esquecimento, Joni Mitchell hoje prefere ser reconhecida por sua pintura.
No auge da fama e com seis discos cultuados como hall of fame de seus seguidores, a deusa loura caiu fora do sistema em busca de novas texturas sonoras, mesclando jazz com música tribal, sequencers & Rolands... quando Paul Simon e Sting ainda nem sonhavam com o 'filão' world music

Deusa das melodias perfeitas, esquecida no Brasil: 90% de seus 21 discos, só importando (ou trazendo na bagagem back from USA/UK, claro)!
Um Bob Dylan de saias (a comparação permitida) que cantou a misteriosa alma feminina, norteando uma geração de novas mulheres, nos anos 60 & 70.
Segundo a Rolling Stone, que editava um “placar” de seus “casos” em 70, uma devoradora de homens...talentosos: James Taylor, Graham Nash (lembram de Our House do C,S&N? pois é...), Jackson Browne, entre outros.
Joni diz que seu grande caso é um cara chamado Art, trocadilho com seu único compromisso, a Arte.
Nas parcerias musicais, David Crosby, Jaco Pastorius, Pat Metheny, Tom Scott, Wayne Shorter, uma constelação de admiradores que tocavam por prazer e amor a arte (dela).
A primeira vez que ouvi Woodstock com Crosby, Stills, Nash & Young, quis saber qual deles era o autor. Na etiqueta do vinyl, li: Joni Mitchell. E Joni era mulher, pra meu espanto. E que loura. Foi quando comecei a devorar Joni até onde me era permitido fazê-lo: discos e mais discos importados, k7 & VHS de shows, numa época sem altas tecnologias como essas de nossas cameras celulares.

Apesar de ser considerada um ícone da nação Woodstock (compôs a canção, certo?), jamais esteve lá!
Com Hejira, álbum lançado no natal de 76, eu surtei de cara na primeira audição, bebunzinho de cider londrina de west kensignton.
Escuta esse violão, que afinação mais doida é essa, e essas guitarras e violões com delay... É o baixo do Pastorius? Neil Young na gaita? As guitarras de Larry Carlton? My God... My Godesss!
No mínimo foi a primeira canadense a levar um Grammy por toda a obra, ao lado de outras Deusas iluminadas como Billie Holliday, Ella Fitzgerald e Bessie Smith.
Sendo que Mitchell é a única compositora, arranjadora e intérprete de Jazz, pop e folk entre todas.

O que justifica sua importância não são apenas sete Grammys e mais de mil covers de suas canções.

Nem o fato de ser a designer da embalagem de todos os seus discos, pintando capas e encartes diretamente em grandes telas à óleo (super bem cotadas no mercado de arte americano e minha utopia de consumo supérfluo).

Nem sites discutindo sua arte até pela ótica literária, nem novas Joni Mitchell lançadas ano após ano, Alanis Morissette, Jewell, Suzanne Vega, Rickie Lee Jones, etc...para comprovar seu poder de influência.
Afinal, Madonna, Chrissie Hynde, Janet Jackson, Prince, Dave Matthews e P.J. Harvey admitem que 'morderam' a Deusa em algum momento.
O que me encanta é o perfeito balanço entre Forma (música) e Conteúdo (letras) envolvendo as canções numa beleza permanente, numa produção musical que atravessa decadas e modismos e se mantém digna, densa e automaticamente updated.

Saboreie Travelogue, o cd de 2003.
Sabe todo o sentimento à flor da pele que Chico Buarque desperta em seus momentos mais inspirados? È por aí…

Procure Taming The Tiger, cd de 98. Seu encanto, após o Grammy de 97, por Turbulent Indigo, é imediato, com os acordes de seu violão incomum filtrados através de um Roland VG8, tecendo camadas sonoras brilhantes com a ajuda de Shorter e do ex-marido e guitarrista Larry Klein. Em Taming... você vai achar uma das músicas mais belas e intensas já compostas por Miss Shell (oops...): "Man from Mars", que já ganhou versões criativas de Chaka Khan (ao vivo) e David Sanborn... Uma pérola perdida num imenso tapete branco...
Mas... bem a propósito desse tempo imediatista em que vivemos... quantos músicos ou compositores podemos escutar durante 35 anos e ainda sentirmos aquela mesma deliciosa sensação de prazer da maravilhosa descoberta, da nossa primeira vez?
Joni Mitchell tem esse Poder.
(Coluna Caio Nehring, publicada na Revista MTV, nº 35/Março de 2004)

No Player, uma canção antiga, ao vivo com a banda de Tom Scott:
http://www.youtube.com/watch?v=LynWDu22Clg&feature=player_embedded#t=245

Editorial Reviews
Following the Grammy triumph of Turbulent Indigo by four years, Joni Mitchell rewards our wait with an album that's even better. Taming the Tiger finds Mitchell playing her guitar through a Roland VG8, adding fresh texture to her continuing musical association with Wayne Shorter's sax and the rhythm section of Larry Klein and Brian Blade. "Happiness is the best facelift" is the line you'll hear quoted, but it isn't truly representative. Song painter Joni knows that light creates infinite gradations of shadow, and this is as varied a collection as she's given us. "Love has many faces," she sings in "Love Puts on a New Face"; and her portraits of longing ("Man from Mars"), abandon ("Crazy Cries of Love"), and quiet fury ("No Apologies") are exquisite. -- Ben Edmonds - 2000






(...)






"Like the English mystical poet [William Blake], Mitchell is an artistic autodidact, experimenting with guitar tunings and jazz bohemianism the way Blake did poetic meter and religious iconography". - Entertainment Weekly - 99

Nenhum comentário:

Postar um comentário